2008-03-19

Avaliação dos docentes vs formação

A proposta de avaliação dos docentes apresentada pelo Governo tem sido objecto de grande discussão, desviando a atenção de outros factores que considero mais importantes para melhoria do sistema educativo. Um destes factores é certamente a formação dos professores.

O aumento significativo do número de alunos, ocorrido nas décadas de 70 e 80, obrigou à entrada no sistema educativo de muitos professores com formação pedagógica e em alguns casos científica inadequadas ao exercício da sua profissão.

Ao longo das duas últimas décadas foram investidos muitos milhões de Euros na formação continua de professores, sem resultados evidentes. Isto porque muita desta formação não foi destinada a resolver as dificuldades destes docentes e porque muitos dos docentes olharam para a formação apenas e só como um requisito para a progressão na carreira.

Com o objectivo de evitar erros cometidos num passado recente e tirando partido da rede de centros de formação de professores existente em Portugal, deveriam ser criados centros de reconhecimento de competências nesses centros, responsáveis por identificar as falhas de cada docente face ao respectivo perfil de competências científicas, tecnológicas e pedagógicas. Estes perfis deveriam ser definidos para cada área científica e nível de ensino. Em seguida, os referidos centros deveriam propor a cada docente um plano individual de formação, composto por uma ou mais acções, a realizar pelo docente num período de tempo definido.

A reforma da educação terá que ser feita com os docentes, sendo exigentes, avaliando-os, mas em primeiro lugar apoiando-os.

2008-03-14

Devolver o PSD aos seus militantes

Desde as legislativas de 1991, ano em que o PSD teve perto de 3 milhões de votos e mais de 50% e, com excepção das legislativas de 2002, o PSD tem vindo, eleição após eleição (1995, 1999 e 2005), a perder votos e a ver diminuir a sua percentagem em eleições legislativas. Nas últimas eleições, o PSD teve pouco mais de 1,5 milhões de votos e menos de 30%. Ou seja, em menos de 15 anos o PSD perdeu metade do seu eleitorado. Mesmo em 2002, em eleições ganhas pelo PSD, o partido teve pouco mais de 2 milhões de votos.

No período pós Cavaco Silva, o PSD teve 6 presidentes, em 12 anos (1995 a 2007), o que dá uma média de 2 anos por Presidente, ou seja, metade de uma legislatura.

Enquanto perdia votos e peso na sociedade portuguesa, o número de militantes aumentou de forma significativa, tendo hoje mais de 100.000 militantes inscritos. Como é que um Partido perde influência no país e em simultâneo o número dos seus militantes cresce de forma significativa?

Cresce para se ganharem eleições internas em núcleos, secções, distritais, ... , à custa de militantes a quem são pagas as quotas para pura e simplesmente votarem. São sindicatos de voto, constituídos por militantes sem qualquer participação activa. Os militantes activos, que conhecem, se identificam e defendem o património, os valores e as políticas do PSD, são hoje uma minoria dentro do partido. Desmotivados, desmobilizados e incapazes de ganharem eleições dentro do seu próprio partido, contra estes sindicatos de voto.

As recentes alterações aos regulamentos do PSD só vêm facilitar este tipo de práticas, dando ainda mais poder aos donos dos sindicatos de voto.

Serão esses mesmos donos que, no dia em que entenderem que não será com Filipe Menezes que irão manter ou conquistar os seus empregos, o farão cair, como fizeram com Marques Mendes, com a complacência de muitos daqueles que agora se insurgem contra as alterações aos regulamentos, propostas com toda a legitimidade por Filipe Menezes.

A questão que importa não é a substituição de Filipe Menezes. O verdadeiro desafio é devolver o PSD aos SEUS MILITANTES. Isso só será possível com uma liderança forte, competente e credível, capaz de mobilizar os militantes activos para esse desafio.

Um governo que não serve

O desenvolvimento sustentado de Portugal passa obrigatoriamente por uma melhoria significativa de um sistema educativo que continua a revelar, por exemplo, elevados níveis de abandono escolar e desempenhos escolares medíocres. Refira-se, a este propósito, o 37º lugar obtido pelos estudantes portugueses no "Science Score" do PISA 2006, estudo da OCDE.

A correlação entre as qualificações da população de um país e o PIB per capita é bem conhecida. A reforma do sistema educativo é pois um imperativo nacional.

É possível fazer a reforma do sistema educativo contra os professores e com os professores contra, mas essa reforma dificilmente conduzirá aos resultados pretendidos.

Um governo incapaz de mobilizar os professores para uma verdadeira reforma do sistema educativo que, no tempo de uma geração acabe com o abandono escolar e consiga atingir níveis de desempenho de excelência no plano internacional, é um governo que não serve os objectivos estratégicos de Portugal.

2008-03-07

Crédito ao consumo 30% mais caro que em Espanha

O Parlamento Europeu aprovou recentemente novas regras sobre o crédito aos consumidores, aplicável a contratos de crédito entre 200 euros e 75 mil euros. Neste âmbito, foram dadas a conhecer as taxas médias de crédito ao consumo na zona euro em 2007 que, se caracterizam por grandes disparidades entre si.

Imagine-se, Portugal é o país com a maior taxa, entre todos os países da zona euro. A taxa em Portugal era, em 2007, de 12,20%, 30% superior a Espanha (9,40%) e quase o dobro da Finlândia (6,30%). O país com a segunda maior taxa era a Grécia com 10,00% (quase 20% inferior à praticada em Portugal).

Filipe Menezes anunciou hoje que, o PSD vai avançar com um inquérito parlamentar aos actos do Governo e das entidades de supervisão do sistema financeiro. Porque não, inquirir o Governo e o Banco de Portugal relativamente a esta matéria? Porque não, exigir a tomada de medidas efectivas que visem assegurar a plena concorrência no mercado do crédito aos consumidores e a consequente diminuição das taxas de juro?

Conhecido o estado de endividamento das famílias portuguesas e o peso das prestações do crédito ao consumo em muitos orçamentos familiares, muitas famílias portuguesas ficariam gratas.